segunda-feira, 4 de abril de 2016

Mais e melhores blues.

O ambiente no bar estava à meia luz... Cole Porter tocava baixo na jukebox... Entre um trago e outro, ela disse:
- Vamos continuar de onde paramos?
Ficou parado olhando pra ela durante alguns minutos... Aqueles olhos castanhos… Depois de tanto tempo, estavam iguais.
- Quem sabe... Ela sorriu e sentenciou:
- Você não mudou... Mas não é mais o mesmo.
Ele olhou pro lado, pediu mais duas doses de Jack pro garçom.
- De fato. Cansei de lutar nas batalhas dos outros. Luto agora as minhas guerras!
O sorriso sumiu do rosto e ficou olhando pra ele.
- Cansou? Mas você sempre foi incansável, imbatível... Imortal!
- E continuo. O cansaço ao qual me refiro é das pessoas pelas quais dediquei meu tempo… Batalhas inúteis. Pessoas inúteis!
- Eu fui uma dessas batalhas?
O garçom trouxe as doses de Jack…
Ele agradeceu, tomou uma delas em um só gole.
Olhou pra ela. Riu de canto de boca.
- Você está aqui, não está? Meu tempo agora é precioso. Não me faça perdê-lo.
A jukebox começou a tocar um blues... 
E um blues é sempre bem vindo... Mais e melhores blues.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Preto, branco, cinza e vermelho.

Ding ding.
O som do sino da porta, ao entrar naquele café era uma das razões que o faziam frequentá-lo... Uma.
O café não estava cheio, havia algumas mesas com grupos de estudantes, casais, um e outro sozinhos.
A sua mesa "cativa" estava vazia... Foi até ela.
Tirou o casaco, colocou em uma das cadeiras e deixou o cachecol por cima. O livro que trazia colocou à sua frente e sentou.
Olhou pela janela... Estava frio naquela tarde, apesar do sol e do céu azul.
Lá fora, via aquela agitação na calçada, carros passando... E seus pensamentos foram longe... Lembrou da primeira vez em que veio ali... Com ela.
Conversaram, riram... Estavam naquele jogo da sedução, em que um ataca e o outro não se defende. Não houve aquele silêncio constrangedor que costuma atacar os futuros casais. Foi assim até o café fechar.
Muitas outras vezes estiverem ali... Como casal, amigos, inimigos em processo de armistício, casal novamente e outras tantas.
Foi interrompido do seu devaneio pela garçonete...
- Oi! Tudo bem?
- ... Hã... Ah! Oi!
- Perdido nos seus pensamentos?
- Pois é... Nossa!
Ela riu... Layla, a garçonete, sempre os atendia. Moça bonita. Olhos verdes, usava óculos... Algo que ele achava que era um "disfarce", pois não havia sinal algum de grau neles... Uma mecha dos cabelos castanhos caía pelo lado direito do rosto... Não era alta e tinha o porte atlético...
- Vem cá... Quando você vai sair daqui? Digo, do emprego... Quantas vezes eu já falei isso mesmo??
- Com exceção das três primeiras vezes? Todas!
- É, não!? - Ele riu...
- Faz tempo que não aparece. O de sempre?
- Sim... Mas traz um chopp de trigo antes.
- Ok! Um mocca, hamburguer com bacon e cheddar e um chopp de trigo.
- Aham...
Quando ela estava saindo, viu o livro na mesa... E disse:
- Esse livro é muito bom! Triste, mas bom... Já li duas vezes.
- De fato! É a quarta vez que estou lendo...
- "Você é linda sua velha rabugenta, e se eu pudesse te dar um só presente
para o resto da sua vida seria este.
Confiança..." 
- Seria o presente da Confiança! Por que leu duas vezes?
- Por que leu quatro? Pra ver se o final mudava?
- Não... Eu gosto da história mesmo. Dá pra saber do final, sem terminar de ler... O destino de determinados casais está fadado a se repetir... Sempre e sempre. Promessas feitas e quebradas... Fins e recomeços. A renovação do amor.
Mas um dia isso cansa, sabe... Cansa ficar nessa indecisão, nessa agonia de não saber o que vai acontecer depois... Chega uma hora em que devemos apenas ir adiante. A vida tem essa sequência de tons: preto, branco, cinza e vermelho.
- Meu Deus! Que análise profunda... Bem, vou lá fazer o seu pedido.
- Ok... Valeu.
Ela saiu em direção à cozinha, passando no bar para pedir o chopp...
Ele ficou olhando pra ela e depois para fora novamente... Já não havia mais agitação.
Era outono... E começava a anoitecer e a noite seria mais fria.
Começou a se perder em seus pensamentos... E nela.

quarta-feira, 10 de março de 2010

"Eu te amo..." E agora???

"Eu te amo..."
Foi assim, de bate pronto... Estavam na fila do cinema, quando ela disse que iria pegar pipoca e refrigerante. Saiu, virou e disse... Algumas pessoas até olharam, mas não deram muita importância, já que é algo tão normal falar 'eu te amo'. Mas o que não sabiam, é que Pietro conhecia Sabrina há 2 meses e começaram a namorar havia duas semanas e que o "eu te amo" saiu mais sincero dos que ele já havia ouvido antes.
Teria que fazer alguma coisa, afinal, ela voltaria tão rápido quanto foi. Deveria dizer o mesmo ou ficar na dele, pra ver no que dava.
E então, tudo começou a voltar...
"Se conheceram na loja de materiais de construção, ele estava procurando brocas para a furadeira, só que esqueceu de anotar qual era a marca. Tentou bancar o esperto e procurar sozinho, mas as trevas da ignorância o tomaram mais do que rapidamente e quando foi pedir ajuda à atendente, não sabia o que era mais impressionante: além do fato de só ver mulheres trabalhando na loja, as que se encontravam no setor de ferramentaria sabiam de trás pra frente, de baixo para cima, tudo sobre ferramentas. No começo, ele até entendeu, que por se tratar do trabalho delas, elas deveriam saber. Mas, depois de cinco minutos de explicações científicas, Pietro estava perplexo.
Foi quando Sabrina adentrou na conversa...
"Como se não bastasse eu ser um burro funcional, ainda essas meninas são lindas... Devem me achar um mané...", pensou. Mas Sabrina, além de linda, era humilde, algo que Pietro admirava...
Após inúmeras explicações, informações e afins, Pietro agradeceu à todas as meninas, disse que procuraria por martelo, pregos, parafusos e buchas pra dar cabo do serviço, elas riram e quando ia saindo, Sabrina perguntou se podia acompanhá-lo, mas do que rapidamente e gaguejando, disse que sim...
"Só se estiver doente pra dizer não!". Passaram por todas as seções da loja sem se dar conta do tempo, enfim Pietro havia comprado o que precisava, e a julgar pelo que Sabrina carregava no seu carrinho, ela era perita em assuntos de construção e reforma.
No final de um dos corredores, se despediram. Cada um foi pro seu lado... Pietro, ora se culpando por não ter pedido o número do telefone, ora pensando achar que seria muito atrevimento, uma vez que Sabrina havia muito educada com ele...
Quando chegou no caixa, não foi surpresa notar que a moça que ali estava também era bonita, o que motivou a perguntar: "Me diga uma coisa: essa loja contrata funcionárias em alguma agência de modelos?!? Porque vou te dizer, só tem gata por aqui..." A atendente riu e respondeu que muitos clientes notam isso, mas que quem trabalhava ali arrumava o emprego da maneira usual... Pietro olhou para o lado e viu Sabrina e pensou em convidá-la para tomarem um café, afinal, ela o havia ajudado e o máximo que poderia ocorrer seria tomar um não na cara... O que não ocorreu.
Durante o café, conversaram mais animadamente... Começaram a se conhecer: ela era advogada e seu pai era do ramo de construções, por isso sabia tudo sobre ferramentas. Ao passo que ela ia falando, Pietro ia se encantando mais e mais! Por fim, combinaram de sair... E o resto é história..."
E agora ele estava alí, parado e assustado com sua própria condição... O que fazer?
Dizer eu te amo não igual a dizer 'oi' ou 'bom dia' e sair dizendo pra tudo que é lado!
Mas ela é tudo o que um homem pode querer em uma mulher: inteligente, bem-humorada e linda... "Então qual é o problema?!?!" - pensava... Se os amigos e irmãos de todas as horas estivessem por perto pra ajudar... Renato, Carlos e Gustavo foram rolar o caroço. Era quarta-feira do futebol e já havia sido crucificado por eles por não ir junto...
No fim, teria que resolver sozinho... Ela estava voltando e ele teria que fazer alguma coisa: se dissesse que também a amava, estava tranquilo. Do contrário, poderia por tudo a perder...
Ela chegou com os quitutes, deu um sorriso, o beijou e disse:
- Eu te disse que te amava, e amo mesmo... E lá da bomboniére fiquei te olhando e notei que você ficou com um olhar perdido. Você não é obrigado a dizer o mesmo se não sentir... Tudo ao seu tempo...
Pietro, em um misto de susto e pavor não parava de pensar:
- E agora???

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Banana na cuca é boa!

Carlos estava quase dormindo, naquele entardecer após chuva, tipico da cidade, quando escutou a buzina inigualável do GTO 67 de Gustavo...
Logo pensou o que levaria o nobre amigo chegar em sua casa àquela hora... Problemas amorosos, pensou....
Após a saudação alegórica de sempre, começaram o debate...
- E aí, bora aprontar o que? - Carlos como sempre, com a cabeça cheia de raciocínios lépidos.
- Xi, brotha... Tô sem clima pra agito... - Gustavo disse sem vontade de nada.
- Puxe uma cadeira, sente do chão e me conte o que te atormenta, meu irmão...
- Véi... Tô no limite: do trabalho, das aulas e sobretudo, dos preparativos pro casamento!
- VIIIIIIIIIIILA ROMANA RESOLVE SEUS PROBLEMAS!!! - Carlos berrou o que sempre berrava, independente do momento... Falou isso até em um velório e quase foi chutado do "guardamento"...
- Pára brotha! Tô falando sério, merda...
- Já sei... Bora comprar uns ingredientes pámodique fabricarmos um petisco...
- Certo... Vai assim, mulambento?!
- Lógico que não! Vou tomar um banho e me maquiar e aí iremos... Vai que encontro minha ex?!?!
Ambos se olharam e riram...
- Tira essa carroça do caminho e vamos no meu carro...
- Aaaah, só por que reformou o Mustanguinho e tá louco pra devolver o susto?!? - riu Gustavo, lembrando da noite em que entraram na contra-mão...
- Não, mané... É que preciso abastecer, só. - Carlos nunca conseguia enganar o amigo...
Depois de voltarem do mercado, foram a cozinha e começaram o preparativos do acepipe.
- Aí! Na minha cozinha é avental e touca! Senão, pode ficar olhando lá da sala! - Carlos demonstraria suas habilidades de chef de cuisine. Motivo de riso e orgulho entre os amigos, já que entrou no curso só por causa de uma mulher...
- Tá certo, Jean-Pierre...
- Vamos discutir um relacionamento usando o mesmo processo de fazer um doce comum... Uma cuca de banana!
- Hã?!?
- É... Você tem todos os ingredientes à mão, cabe à você deixá-la boa ou ruim! - disse Carlos, com o cinismo de sempre.
- Me explica, porque, honestamente, dessa eu não sabia...
- Simples, como tudo na vida... Quando você conheceu a Simone, tinha os ovos, a farinha, margarina, enfim, quase tudo... Menos o fermento!
- Fermento?!?
- Sim... A Simone é teu fermento!! Trouxe maciez à tua vida...
- Meu Deus! Porque eu te dou ouvidos, cara?!?
- Por que somos amigos há milanos e sei bem quando você tá bem ou não! Enfim, você tava na cozinha da sua vida, esperando fazer alguma coisa, mas faltava algo. Ou seja, o fermento! Afinal, não ele que faz crescer os quitutes e dá a maciez?!?!
- Prossiga em sua gastronômica narrativa...
- Então... Você tava lá. tentando fazer algo que fosse bom, mas não sabia o quê. Até que encontrou a Simone! E juntos começaram a preparar a cuca da felicidade... Reuniram todos os ingredientes, fizeram a massa, a farofa e talz... Tiverem alguns percalços no caminho, brigas e afins, o que seria o equivalente a tirar do forno antes do tempo, mas ajustaram a temperatura, e agora esperam os minutos finais pra ver se ela está boa ou não.
- Realmente... Apesar de toda essa loucura que você faz pra explicar algo, você tem razão...
- Gracias, hermano...
- Mas não tá faltando alguma coisa?
- Se refere à banana?!
- Sim...
- Ah... Verdade... Banana na cuca é boa!
E uma vez mais, ambos riram...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Índios, camelos ou a terra dos caubóis?

Nem lembrava da última vez em que tinha fumado, e se perguntou porque não havia fumado aquele excelente Monte Cristo que lhe foi oferecido durante o festejo, mas mesmo assim estava determinado a fumar, mesmo não conseguindo lembrar o motivo que o levava a fumar como antigamente...
E aos poucos, seus pensamentos começaram a voltar pro carro e pra ela que não parava de falar...
Há quanto tempo ela estava falando?! Teria começado ainda no salão, no estacionamento ou desde o dia em que tiveram o primeiro atrito? Quis rir, mas achou melhor não municiar o inimigo...
E não encontrava um lugar sequer que pudesse saciar seu (péssimo) hábito há muito abandonado. Em tempos de outrora, sempre tinha seus smoking times com os amigos: durante a aula, nos barecos e afins...
E essa mulher sentado ao seu lado, afinal de contas, quem é? Falando assim, mais alto que o Billy Idol cantando Rebel Yell no rádio!
Era tão doce no início e reservada... As únicas reservas que tem agora são no que diz respeito à ofensas de cunho familiar... Mas continua sendo uma mulher sem igual.
Índios, camelos ou a terra dos caubóis? Era assim que falavam quando "degustavam de um pito"...
Então como se acabasse de sair do coma, lembrou o porque de tanta balbúrdia: havia encontrado Bia, uma amiga de tempos de cursinho e faculdade, a qual ela, pra variar, detestava... Conversaram animadamente, mais pra matar saudades do que pra outra coisa. Talvez o fato de Bia ser modelo e ter abandonado a faculdade por isso e ser linda, não tenha sido o motivo e sim, o fato dela ter pedido um isqueiro emprestado e oferecido um cigarro e que tenha dado início ao teatro grego que ela fazia com tanta maestria...
Então, o sogrão, que deve ter pressentido o erguer de ombros e agregador como sempre, chegou com uns amigos e perguntou se ele gostaria de ir ao deck, degustar de um bom charuto cubano... Tentou ajudar, mas só o que fez foi apagar o fogo com gasolina.
Despediu-se dos mais próximos e Bia, que lhe entregou um cartão e ajudou a sacramentar a farra do boi, e singrou rumo à saída.
Ela perguntou onde estava indo... a vontade de dizer que estava indo rumo ao desconhecido - algo que a deixava no veneno - chegou à ponta da língua, mas preferiu deixar prá lá... Extremamente irada, ela entrou no carro e começou o monólogo...
Falou de tudo, um pouco: desde a noite em que se conheceram, até a maneira que tratava qualquer atendente, sem esquecer é claro, de maldizer seus amigos... o de sempre. Mas falar dos amigos é sempre tenso e ela sabia que havia cruzado a linha que separa o sagrado do profano.
Enfim, achou um posto, parou o carro, olhou bem pra ela e disse: "Helena, você conseguiria fazer até um mudo gritar de desespero com seus chiliques! E outra coisa, vou até aquele posto ali e comprar tantos cigarros tiverem e ponto final! Estamos de acordo?"
Apesar de estar falando há sabe-se lá quanto tempo, saiu só um fiapo de voz: "Renato, é que eu estou...", ele nem esperou o fim.
Saiu mais leve do carro e caminhou tranquilamente na madrugada fria e de céu estrelado, e finalmente lembrou o porque fumava...
Era pra desestressar...